quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Ronaldo: Vítima do futebol moderno


Ontem fiquei verdadeiramente triste, como todos os brasileiros apaixonados por futebol. Ou melhor. Acho que todos os cidadãos do planeta que acompanham um pouco do mundo da pelota ficaram feridos de morte.As imagens que se repetiam incessantemente nos noticiários causaram em mim um sentimento meio paradoxo. Algo que variava entre a surpresa e o "eu já sabia". Mesmo assim fiquei me perguntando: como o melhor atacante da recente história do futebol pôde ser tão massacrado e machucado pelo mesmo esporte a que ele tanto se dedicou e contribuiu? A resposta é simples. O mundo da bola tornou-se uma indústria e, como em toda e qualquer produção em série, os lucros vem antes que qualquer outra coisa.

Falta de respeito com o próprio corpo. Este é o diagnóstico perfeito para a série de lesões de Ronaldo. Ruptura do tendão patelar do joelho esquerdo é apenas mais uma das incontáveis lesões que o craque tem sofrido. Virilhas, coxas, panturrilhas e qualquer outra subdivisão dos membros inferiores já estão gastas pela grande massa muscular que Ronaldo adquiriu durante a carreira. O problema foi que, rendidos ao talento do jovem magricela recém saído do Cruzeiro, os empresários quiseram fazer dele uma máquina de gols e pra isso não mediram esforços (nem dinheiro). Não sei o que eles fizeram, mas foi realmente em muito pouco tempo que o nosso Nazário ficou forte como um touro. Com isso, derrubou zagueiros, fez centenas de gols e tornou-se o melhor do mundo.Junto com as glórias veio uma gorda conta bancária, não só pra ele mas como pra os empresários e clubes. O negócio chamado "Ronaldo Nazário" estava dando certo.

Final da Copa de 1998. Edmundo estaria escalado no lugar de Ronaldo de última hora. A justificativa seria uma convulsão que o craque teria sofrido no vestiário, minutos antes do início da partida. Mesmo assim, Ronaldo entra em campo e acontece aquela tragédia que todo mundo se lembra. Teria sido aquele mal estar só nervosismo? Eu duvido. Pra mim era mais um indício de que a saúde do craque estava debilitada. Após esse fiasco da final, uma série de micro lesões ligava o sinal de alerta de novo. Até que, em 2000, seu joelho direito estoura em frente às câmeras do mundo todo, produzindo uma espécie de espetáculo macabro. Quase dois anos parado e a incerteza se o país do futebol contaria com o fenômeno para a Copa. Mal sabíamos que ele não apenas voltaria, como aquela seria a Copa da redenção do atacante. Ronaldo brilhou mais uma vez.

Em 2006 a história foi diferente. Passando por nova série de lesões, o artilheiro viu sua vida pessoal estampada em todas as revistas do mundo. Ridicularizado pelas manchetes fofoqueiras, parece que Ronaldo esqueceu-se que sua profissão era jogador de futebol. Engordou e fez feio na Alemanha, junto com toda a equipe brasileira. Novas lesões e nenhuma convocação para a seleção de Dunga, seu companheiro de grupo na Copa de 1994. Ronaldo, agora de time novo, parecia ter se tornado de vidro. Não sou médico, mas arrisco dizer que aquele sobrepeso que o acompanha desde o começo do sucesso tem algo a ver com isso. Lembro perfeitamente de um estiramento que ele sofreu na coxa durante um treinamento. Ou melhor. O treinamento já havia acabado e ele apenas chutou a bola para a torcida,como qualquer senhor de meia idade faria sem nenhum esforço sobre humano. Pra Ronaldo aquilo já significava mais algumas semanas sem jogar. Chamar essa lesão ridícula de azar me parece querer tapar o sol com uma peneira.

Temo que ontem tenha sido a última das lesões de Ronaldo. Com 31 anos, sofrendo com sua tendência para engordar e não jogando mais aquele futebol que estávamos acostumados a ver nos tempos de PSV, Inter de Milão, Barcelona e, principalmente, Seleção Brasileira, parece que a carreira do melhor atacante que eu já vi jogar está acabando. Não quero culpar ninguém, mas pra mim parece óbvio que a sede de ser um "fenômeno" abreviou a carreira de Ronaldo. Mesmo achando que essa última lesão não tenha sido apenas um infortúnio do destino, torço muito pra que ele se recupere e volte a jogar, nem que seja pra encerrar sua carreira no Flamengo, como ele tanto quer. Ele merece.

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