segunda-feira, 2 de junho de 2008

O faniquito do zagueiro e a exclusão nordestina da mídia

Não quero mais dizer aqui que o que aconteceu ontem no Estádio dos Aflitos, em Recife, foi um absurdo. Isso todo mundo já sabe e já ouviu demais por aí. O que eu fico realmente revoltado é com a dimensão que a coisa tomou em comparação com outros eventos de mesma ou até mesmo maior gravidade do que o faniquito de um zagueirinho qualquer.
Estava ouvindo a resenha esportiva sobre a rodada do Campeonato Brasileiro no rádio ontem a noite, quando um dos locutores da Sociedade AM disse o seguinte: “Viu aí?! Esses caras do Rio de Janeiro chegam aqui no nordeste e acham que podem fazer o que quiser!”. Hoje a tarde, assistindo ao “Redação Sportv”, o presidente do Náutico, Maurício Cardoso, deu uma declaração mais ou menos assim: “Ano passado, nossa equipe estava no estádio do Canindé, em São Paulo, e um torcedor do Náutico morreu na nossa frente e a mídia não deu a atenção que estão dando para o caso do André Luis, por exemplo”. O apresentador do programa fingiu que nem ouviu a colocação do presidente e fez uma outra pergunta fora do contexto do que Maurício Cardoso acabara de falar. Ano passado, no maior acidente da história do futebol brasileiro, na Fonte Nova, quando 7 torcedores do Bahia morreram ao despencar do anel superior do estádio no dia do retorno da equipe à série B, a cobertura nacional da mídia aconteceu sim, é verdade, mas não com o destaque merecido. O tempo passou, e a mídia nacional se preocupa só com as reformas no Maracanã e no Morumbi, visando a Copa de 2014. As novas notícias sobre a tragédia a gente só soube pelos jornais daqui mesmo, e muito em cima do fato do tricolor estar sem estádio pra jogar ou pela candidatura de Salvador a sediar uma das chaves da Copa . E só.
A mídia brasileira em geral dá atenção demais às tragédias que acontecem no eixo Sudeste-Sul, e os nordestinos pé-rapados, (que roubam os empregos deles por lá) que se lasquem. Quem não se lembra quando o alambrado de São Januário na final da João Havelange, no ano 2000, entre Vasco e São Caetano? A televisão cobrava veementemente soluções rápidas para o problema e que os culpados fossem punidos. E não venham me dizer que isso se deu por causa da proximidade dos eventos às sedes das grandes emissoras. Com a expansão desses meios pelo mundo todo, essas fronteiras são facilmente transponíveis, se é que elas existem mesmo.
Não quero aqui defender o revanchismo incitado pelo narrador da Sociedade ou pelo presidente do Náutico, mas sei que eles tem motivos de sobra para falar o que falaram. Quando um zagueiro qualquer do Botafogo, como o André Luis, acorda de mau humor e resolve brigar com a polícia (que cumpriu o seu trabalho, diga-se de passagem), é motivo para repensar a segurança nos estádios de todo o Brasil. Mas quando morrem sete torcedores ao cair das alturas de um dos maiores estádios do Brasil que caia aos pedaços, os baianos que se virem para achar os culpados e os puna. O próximo passo é dizer que o futebol brasileiro está decadente, só porque o Náutico está perto dos líderes da Série A do Campeonato Brasileiro. É melhor a gente se cuidar e fortalecer o futebol e nossas federações o quanto antes, ou senão vamos acabar isolados na nossa insignificância sertaneja. O primeiro passo, que inclusive está em vias de acontecer, é a volta da Copa do Nordeste. Tomara que aconteça e que nossos clubes e torcedores saibam como se defender desse monopólio sulista da dramaticidade. O que é drama lá, é aqui também.

Um comentário:

RolaBlog disse...

Há um certo preconceito que sobressai da discussão gerada a partir do episódio nos Aflitos. Preconceito de ambas as partes: mídia e dirigentes.

De um lado, colocam o Náutico como vilão, o culpado pelo tumulto. Do outro, apontam um complô do Sudeste contra o Nordeste, quase que dizendo que o fato lamentável do último domingo envolve todo o futebol nordestino.

O problema ocorreu nos Aflitos, e isso nada tem a ver com o resto do Nordeste, muito menos com a tragédia na Fonte Nova. Foi um isolado e atípico, que deve ser resolvido entre a diretoria do Náutico, a polícia, o Botafogo e a Justiça.

O Nordeste, incluindo Recife, sempre apresentou estrutura para receber jogos de qualquer campeonato, tal qual outras regiões do país.

Enfim, sua análise é pertinente, e a mídia deve repensar, sim, o tratamento da notícia e sensacionalismo gerado em torno do fato.

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Abraço,


Breiller
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